Cuidar da saúde do outro não requer apenas habilidades práticas ou acadêmicas vai muito além disso, requer saúde mental.
Trabalhar na área da saúde
para quem está de fora dela pode parecer por inúmeras vezes um sinônimo de
status ou de muitos ganhos financeiros, mas na verdade é preciso ir muito além
de querer ter status ou ter boas habilidades práticas e acadêmicas. É
necessário amar com muita força a profissão que envolve a área de saúde.
O profissional da saúde
trabalha constantemente “no fio da navalha”, ou seja, trabalhamos com a parte
mais sensível do ser humano, que é a saúde, trabalhamos sempre sob uma pressão
gigantesca que chega por todos os lados, inclusive a pressão que colocamos em
nós mesmos em sermos bons no que estamos fazendo, de dar sempre o nosso melhor,
de termos sucesso na profissão.
Além de todo o cansaço mental,
da desumanização cotidiana que enfrentamos, ainda temos que ter a cabeça
tranqüila para estudar as doenças que chegam como uma avalanche a cada dia, ter
que manter a tranquilidade no atendimento de quem está sentindo dores, seja
física ou emocional.
Precisamos sempre estar muito
bem treinados e preparados para lidar com as emoções, com a saúde mental, com o
suicídio e com o familiar do outro, mas não estamos preparados para lidar com
as nossas emoções, com a nossa saúde mental.
A cada dia mais eu vejo os
profissionais da saúde doentes emocionalmente, doentes mentalmente e muitos sem
procurar por ajuda. Enganam-se quem
pensa que isso é uma exclusividade do Brasil, esse já é um problema mundial.
Precisamos enfrentar efetivamente as doenças mentais dos profissionais da saúde,
só assim iremos interromper a gama de suicídios na área.
Não é nenhuma novidade que o índice
de suicídio entre esses profissionais tem aumentado a cada dia e o mais
alarmante é que pouco se divulga essa situação, profissionais como médicos,
psicólogos, enfermeiros, técnicos, auxiliares, dentistas, assistente social,
fisioterapeutas, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogos e uma quantidade enorme
de profissionais da área não estão escapando das doenças mentais como
depressão, TOC, transtorno de ansiedade, transtornos de humos e muitos chegando
ao suicídio.
Quando se houve falar que um
médico ou um psicólogo, por exemplo, está deprimido ou se suicidou, a reação
das pessoas é a pior possível, já vi reportagens em que diziam que a pessoa era
médico e havia se suicidado e outra pessoa questionou; se suicidou por que se
ele era médico? Sim, ele era médico, mas por trás do diploma dele tinha um ser
humano suscetível a problemas emocionais.
O mesmo serve para psicólogos,
quando falo que vejo psicólogos com depressão, logo ouço o questionamento; mas psicólogo
com depressão? Sim, o psicólogo que cuida da saúde mental dos outros também é
um ser humano, suscetível a problemas dessa natureza. Não irei entrar nas
questões de todos os profissionais, pois com certeza em todas as áreas da saúde
sempre terá indagações.
Por que tantos profissionais
da saúde estão com problemas emocionais? Porque estamos cuidando do outro e nos
esquecendo de nos cuidar, achando que podemos suportar mais e mais, todos os
dias.
Não queremos parar, analisar e
admitir que sempre estamos expostos a um conjunto de estímulos emocionais que
acompanham o nosso adoecer. Estímulos esses que podem ser a dor e o sofrimento
do outro, seja um paciente terminal, uma criança que sofreu abuso, um paciente
com depressão grave, seja o suicídio, ou um paciente queixoso, rebelde e que
não adere ao tratamento, até mesmo lidar com as expectativas que o paciente e
seus familiares colocam em nós profissionais da saúde, desejando certezas e
garantias de nossa parte. Sem falar nos
plantões difíceis e no medo constante de errar com o paciente, erros que podem
muitas vezes custar à vida dele. Então ficam as perguntas: Quem cuida da saúde
mental dos profissionais da área da saúde? Por que poucos profissionais procuram por
ajuda?
Somos seres humanos, precisamos
buscar ajuda, cuidar da nossa saúde mental para poder continuar a batalha por
salvar vidas, continuar nessa profissão nada fácil, mas que escolhemos por
amor, porque quem não trabalha na área da saúde por amor a profissão não
resiste à pressão.
“Quando
as coisas não andam bem na sua cabeça, elas não andam bem em nenhum lugar”
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